terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Compostagem Orgânica!


"Os resídos domiciliáres coletados nos Municípios do Brasil, contam em sua composição com grande quantidade de matéria orgânica, superior a 50% em peso.
Esta matéria orgânica quando não tratada ou disposta no solo corretamente torna-se a principal fonte de poluição dos resíduos domésticos, pois geram efluentes liquídos (chorume) e gasosos (biogás) que poluem corpos hídricos e a atmosfera, respectivamente."
(IBAM/2007).

Ainda, de acordo com o IBAM, uma das mais difundidas formas de tratamento dos resíduos sólidos orgânicos é a técnica conhecida como compostagem.

Para Mirian Stumpf/2008, em seu texto: "Como fazer composto orgânico em casa", composto é uma "mistura de resíduos oriundos de diversas fontes, aparentemente sem uso ou valor que pode ser reunido para a formação de um adubo.
A compostagem pode ser feita de resíduos vegetais de lavoura, aparas de grama e restos de vegetais oriundos da cozinha, esterco de animais vegetarianos, bem como de muitos outros materiais."


A compostagem pode ser aeróbia ou anaeróbia, em função da presença ou não de oxigênio no processo.

Processo de compostagem.
"Os materiais que tem os mais diversos tamanhos, formas e composição são misturados e colocados para decompor e passam por processos bioquímicos.
Estes processos são realizados por microorganismos que utilizam este material como fonte de energia, absorvendo os ingredientes minerais e carbono.
Ocorre a degradação deste material em presença de oxigênio e o produto é gás carbônico, água, calor e matéria orgânica utilizável pelas plantas. Nesta atividade microbiana o material aumenta a temperatura, ficando entre 50 e 70ºC.O processo, conforme o manejo destes resíduos, leva em torno de 90 dias até 1 ano. Quanto mais revolvido for o material mais ar entrará na pilha e se a umidade estiver correta mais rápido será o processo. Também em climas quentes e no verão o tempo diminui pela maior atividade microbiana."(
Mirian Stumpf/2008).

Agricultura Orgânica.
O conceito de agricultura orgânica surge com o inglês Sir Albert Howard entre os anos de 1925 e 1930 que trabalhou e pesquisou a forma de plantio na Índia. Howard ressalta em seu trabalho a importância da utilização da matéria orgânica e da manutenção da vida biológica do solo .
Segundo a definição do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos/1984, a agricultura orgânica é "um sistema de produção que exclui o uso de fertilizantes, pesticidas, reguladores de crescimento e aditivos para a alimentação animal composta sinteticamente". O sistema de agricultura orgânica se baseia na rotação dos cultivos,na utilização de estercos animais, leguminosas, resíduos orgânicos, cultivo mecânico, minerais naturais, compostagem e do controle biológico de pragas, para manter a estrutura e a produtividade do solo, além de transportar nutrientes para as plantas e controlar os insetos e outras pragas.

Não use para produção do composto orgânico!
comida cozida que contém sal, carnes cruas ou cozidas de gado, peixe ou aves, sebo, papel toalha usados para fritura, sementes de tomate, cascas de batatas, sementes de moranga e abóbora, sementes de inços, excrementos de cães e gatos, a areia do banheiro do gato, revistas, folders coloridos de propaganda. Também cinzas oriundas de churrasqueira por causa do sal e porque o carvão contém substâncias que podem prejudicar o insumo proposto.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Jamaica Cream!



Para você que está cansado de comer a castanha Portuguesa só cozida! Uma dica "bacana" de uma sobremesa exótica para o seu fim de ano!

Curiosidades:

"A Castanha Portuguesa é uma árvore de porte médio, que produz ouriços dos quais retiram-se castanhas. Estas castanhas são farinhentas e adocicadas. São espécies longevas e que podem alcançar entre 400 e 500 anos em produção, com diferentes produtividades conforme a espécie e a variedade..

Seu fruto contém uma amêndoa comestível e deliciosa, que fica coberta por uma cápsula revestida por espinhos, uma espécie de ouriço. Quando o fruto amadurece, o ouriço se abre, oferecendo a castanha.

A castanha é um dos alimentos mais antigos da humanidade. A castanheira foi a árvore do pão das tribos pré-romanas, que as comiam assadas ou faziam farinha. Os legionários romanos subsistiam de "bullote", que era a farinha de castanhas secas amassada em forma de pão."
(Martim Brunhoz/2009).

Receita:

500gramas de Castanha Portuguesa cozinha.
250gramas de Açucar.
300gramas de chocolate em pó.
2unidades de baunilha em favo.
170ml de Leite.
70ml de Leite Condensado.
30gramas de manteiga.
200ml de Creme de leite para Chantily.

Modo de fazer:
Espremer as castanhas, em fogo médio unir o açucar, leite, leite condensado, chocolate em pó, as favas de baunilha abertas e a manteiga.
Levar a geladeira.
Bater o chantily, e servir o creme acompanhado com o chantily!
Salpicar cacau em pó na hora de servir!

Harmonizar o prato com Espumante e ou Brut.

Rendimento: 4 porções.

Feliz Natal e Boas Festas!

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Sous Vide de Lombo au Chutney de Cereja com Purê de Batata Baroa!





Dica de um prato principal para as festas de final de ano!
Me desculpe as fotos, mas sou eu que estou clicando e sei que não estão muito boas, mas acreditem, as comidas que estou postando são de sabores únicos e todas testadas antes de postar, até mesmo para eu obter a imagem!
Lembrando: Todas as receitas são criações minhas!

Curiosidades:

"Batata Baroa também conhecida por mandioquinha, é uma raiz comestível, como a mandioca. O nome batata-baroa originou-se do fato de ter sido introduzida no Brasil pelo barão de Nova Friburgo que a trouxe das Antilhas.

Quando de boa qualidade, é firme, lisa, de cor amarelo clara, com as extremidades viçosas. Pode ser conservada durante aproximadamente uma semana, depois torna-se mole e enruga, perdendo o sabor.

É muito utilizada para sopas e purês, principalmente na alimentação das crianças. Sendo usada, ainda, cortada em fatias finas e fritas em óleo, acompanhando carnes ou assados.

É um bom diurético. E contém niacina, substância que evita problemas de pele, do aparelho digestivo e do sistema nervoso."
(Rachel Duarte/2008).

"Cereja é o fruto da cerejeira, planta originária da Ásia, que deve ser cultivada em regiões frias. A cereja é um fruto pequeno, com 2 cm aproximadamente, arredondado, de cor vermelha, polpa macia e suculenta. Existem muitas variedades da fruta, todas contendo vitamina A, cálcio e fósforo.

As árvores que não produzem fruto são cultivadas como planta ornamental no Japão.

A cereja pode ser consumida ao natural ou como sobremesa. É usada na preparação de conservas, compotas, bebidas como o cherry e o kirsh. Ao natural a cereja tem propriedades refrescantes, diuréticas e laxativas. Dá um toque de elegância na decoração de doces, sorvetes e coquetéis."
(Patrícia Lopes/2003 - Brasil Escola).

"Chutney (termo de origem anglo-saxónica, usado com alguma frequência por portugueses, brasileiros e moçambicanos), ou chetnim (termo indo-português oriundo de Goa, Damão e Diu, outrora pertencentes ao Estado Português da Índia, por vezes também usado nos demais países de língua portuguesa), chatni (transliteração Hindi) ou catni (transliteração arcaica) é um condimento de paladar agridoce, picante (forte ou suave), ou ainda uma mistura dos dois, originário da Índia".(Rita D' Souza , "Goan Kitchen", Roli Books 2002, ISBN 8174361952).

Sous-Vide termo francês para “no vácuo”, é um método de cozinhar que se destina a manter a integridade dos ingredientes, pelo aquecimento por um longo período de tempo, a relativas baixas temperaturas.

Receita:

Sous - Vide Lombo

8 "cortes de 175 gramas" de Lombo Suíno.
Alecrim fresco.
Manjericão fresco.
1 unidade de cebola média (picado).
2 dentes de alho (picado).
150 ml de vinho branco (seco).
Noz moscada (pitada).
Louro (1 folha).
Sal (a gosto).
Pimenta do reino (a gosto).
50ml de conhaque.
Saco para congelar alimentos.

Modo de fazer:
Selar o Lombo em uma frigideira ou panela, colocando todos os ingredientes. Selado o Lombo, esperar esfriar e colocar no saco para congelar retirando todo o ar do saco (colocar o caldo que ficar na frigideira com as ervas e etc).
Em uma panela funda, colocar água e deixar morna sem levantar fervura, colocar um prato no fundo da panela para que o plástico com a carne não encoste no fundo, mergulhando o saco na panela retire o resto do ar do saco e vede o saco com o zip que vem no mesmo! Deixe cozinhar em fogo baixo por 2horas. Retire do fogo, em uma frigideira quente coloque a carne e o caldo que ela soltar, espere dourar e flambe com o conhaque.

Chutney de Cereja

20unidades cerejas (in natura) cortadas.
100gramas de açúcar mascavo.
1 unidade de pimenta dedo de moça picada e sem sementes.
175ml de vinagre branco.
50ml de suco de limão.
1unidade de canela em pau.
10gramas de cravo da Índia.
1unidade de cebola pequena.
2unidades de dente de alho.
2unidades de cardomomo assado.
Sal a gosto.

Modo de fazer:
Levar ao fogo alto todos os ingredientes, depois que levantar fervura cronometrar 3minutos, levar a fogo baixo e deixar reduzir bem.

Purê de Batata Baroa.

500gramas de Batata Baroa.
500ml de água.
30gramas de manteiga.
Sal (a gosto).
Pimenta do reino (a gosto).

Modo de fazer:
Cozinhar a Batata Baroa, retirar um pouco da água, espremer ou amassar o insumo, com um batedor manual bater ate dar ponto de purê, adicionar manteiga para brilho, sal e pimenta do reino a gosto.

Harmonizar o prato com Vinho Branco Maduro e Encorpado, ou Tinto Jovem.

Rendimento 4 porções.

Obs: essa receita estrala, vocês não tem noção!

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Brandade de Bacalhau em cones crocantes!





Dica de uma entrada para as festas de final de ano!
Uma forma diferente de servir o bacalhau, por ser servido frio, feito com técnica francesa, possível substituição por qualquer proteína que desfie ex: Siri, Frango e etc.

Curiosidades:

História do bacalhau por Elizabeth Lamosa/1994:

Um Alimento Milenar!
O início do Bacalhau com os Espanhóis e os Vikings
Bacalhau para os povos de língua portuguesa; Stockfish para os anglo-saxônicos; Torsk para os dinamarqueses; Baccalà para os italianos; Bacalao para os espanhóis; Morue, Cabillaud para os franceses; Codfish para os ingleses.

(O nome bacalhau, de acordo com o Dicionário Universal da Língua Portuguesa, tem origem no latim baccalaureu. )

Mundialmente apreciado, a história do bacalhau é milenar. Existem registros de existirem fábricas para processamento do Bacalhau na Islândia e na Noruega no Século IX. Os Vikings são considerados os pioneiros na descoberta do cod gadus morhua, espécie que era farta nos mares que navegavam. Como não tinham sal, apenas secavam o peixe ao ar livre, até que perdesse quase a quinta parte de seu peso e endurecesse como uma tábua de madeira, para ser consumido aos pedaços nas longas viagens que faziam pelos oceanos.

Mas deve-se aos bascos, povo que habitava as duas vertentes dos Pirineus Ocidentais, do lado da Espanha e da França, o comércio do bacalhau. Os bascos conheciam o sal e existem registros de que já no ano 1000, realizavam o comércio do bacalhau curado, salgado e seco. Foi na costa da Espanha, portanto, que o bacalhau começou a ser salgado e depois seco nas rochas, ao ar livre, para que o peixe fosse melhor conservado.


Brandade é uma técnica da culinária francesa, em que são utilizadas três panelas ao mesmo tempo.

A brandade de bacalhau é um especialidade típica do Sul-Oeste da França. Existem algumas variantes de uma região para outra.Essa receita é uma criação minha.

Receita:

500 gramas de bacalhau "dessalgado e desfiado".
250 ml de azeite de oliva "extra virgem".
250 ml de creme de leite "fresco".
Sal.
Pimenta do reino.
Cheiro verde.
Manjericão.
6 fatias inteiras de pão de forma sem casca.

Modo de fazer:

Brandagem:
Levar ao fogo baixo: na primeira panela o bacalhau, na segunda panela o azeite e na terceira panela o creme de leite fresco.
Ir regando a panela com o bacalhau com os outros insumos,um a um e misturando sem parar.
Até que todos os insumos estejam na mesma panela.
Corrigir o sal, adicionar pimenta do reino moida (a gosto) e o cheiro verde.
Levar a geladeira por no minimo 4 horas antes de servir.

Cones crocantes:
Afinar com um rolo as fatias inteiras de pão de forma sem casca.Cortar em 3 quadrados, e depois dividir os quadrados em 2 triângulos.Colar as pontas dos triângulos usando clara de ovo.Levar ao forno até dourar.

Rendimento 18 cones.

Para servir, coloque a brandade dentro dos cones e decore com uma folha de manjericão fresco, que da um sabor todo especial para a brandade.
O prato harmoniza com Vinho Tinto jovem ou de médio corpo, ou Branco maduro.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Batucar e cozinhar, só começar!


Musica e comida, se misturam super bem.
Há quem enxergue na cozinha, uma grande orquestra a ser regida, e nos utensílios culinários instrumentos a serem tocados pela sensibilidade dos músicos (cozinheiros) ma estrados pelo chefe de cozinha.
É comum ver a cena de alguém batucando com algum utensílio culinário, ou até mesmo criar instrumentos musicais com tais; ex: Tom Zé (1936/cantor,compositor e arranjador).
Eu adoro cozinhar ouvindo ópera, preferêncialmente as que tem cenários musicais ambientados em uma cozinha, ex: La serva padrona, ópera buffa de Giovanni Battista Pergolesi, na versão da diretora brasileira Carla Camurati.

Revista época.(13/07/98)

Trata-se da adaptação de uma ópera bufa, escrita em 1733 pelo italiano Giovanni Battista Pergolesi (1710-1736), que era apresentada nos intervalos de óperas sérias. Mesmo confiante no sucesso, Carla evitou correr riscos. "Não sou louca de fazer uma grande produção de uma ópera", afirma. "Estamos trabalhando com renúncia fiscal e acho necessário ter responsabilidade." Estrelada por um par de cantores líricos mineiros, a adaptação da cineasta é toda cantada em italiano, legendada em português e quase inteiramente ambientada em uma cozinha. "Não pretendi fazer uma obra revolucionária. Quero que as pessoas comprem pipoca e tenham um ótimo divertimento", diz a diretora, de 37 anos.

Algumas das musicas que cantam a comida(em verbetes):

“Um montão de torresmo pra acompanhar,
Arroz branco, farofa e a malagueta,A laranja-bahia ou da seleta,
Joga o paio, carne seca, toucinho no caldeirão, E vamos botar água no feijão.”(Chico Buarque/1977), ou em Macarrão com linguiça e pimentão(1970) da alquimista da bossa’N roll que se alimenta (ou deixa de se alimentar por ser tão magra) Rita Lee.

A comida também foi cantada como forma de protesto, na letra do Arnaldo Antunes(1987) “bebida é água. comida é pasto. você tem sede de quê? você tem fome de quê?"

Arnaldo também ensina a higienização as crianças com a musica Lavar as mãos(1998).

O bahiano Dorival Caymmi canta a comida, ou o hábito de faze-la em quase em todas as suas musicas.

Caetano Veloso em 1971 descreve uma mulher com lagrimas nos olhos de cortar cebola, em sua musica Você não entende nada.

Toquinho e Vinicius te convidam para uma roda de samba e uma cerveja em casa, em nome de nosso senhor

Já os Mutantes em 1968, questionam os hábitos das pessoas na sala de jantar, com Panis et Circense, onde até hoje as pessoas estão ocupadas em nascer e morrer!!


Muitos cozinham como terapia.Eu, enquanto ouço musica e cozinho,prefiro a sensibilidade amadora e a filosofia de porpeta: enquanto enrolo, vou analisando tudo. Aqui as palavras valem mais do que a comida. Elas salgam a prosa de modo a forrar, desejo eu, estômagos famintos de dedo-de-moça, aroma de flores e divagações.E muita musica, para alegrar e harmonizar todos os momentos!
A musica alimenta a alma.
Bem do tipo botequim!
.... comer comer, é o melhor para poder crescer ....

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

"Insatisfação alimentar de fome psíquica"


"Por que as condições materiais, se indispensáveis, são potencialmente 'objetivas' e 'necessárias' de muitas maneiras diferentes, de acordo com a seleção cultural pelas quais elas se tornam forças efetivas?" (Marshall Sahlins, "Cultura e Razão Prática", p.187).

Baseado no artigo: Comida de Comer Comida de Pensar de Clarissa Magalhães/1995.

"O conhecimento das características pertinentes à condição econômica e social (o volume e a estrutura do capital apreendidos sincrônica e diacrônicamente) só permite compreender ou prever a posição de tal indivíduo ou grupo no espaço dos estilos de vida, ou o que dá no mesmo, as práticas através das quais ela se marca e demarca, se for concomitante ao conhecimento (prático ou erudito) da fórmula generativa do sistema de disposições generativas (habitus) no qual esta condição se traduz e que a retraduz: falar do ascetismo aristocrático dos professores ou da pretensão da pequena burguesia não é somente descrever estes grupos por uma de suas propriedades, ainda que se trate da mais importante, é tentar nomear o princípio gerador de todas as propriedades."
(Pierre Bourdieu, in "Gostos de Classes e Estilos de Vida", p.83).

De acordo com Clarisse a alimentação ou as "práticas alimentares" selecionam alimentos e definem "dietas alimentares". Elas não só são proibitivas em relação a alguns alimentos, como são prescritivas em relação a outros. Estas proibições e estas prescrições dão vida simbólica à categoria comida.
Para Roberto da Matta: "...o alimento é algo neutro, a comida é um alimento que se torna familiar e, por isso mesmo, definidor de caráter, de identidade social, de coletividade" (Roberto da Matta, 1988).
Para Clarisse o Roberto da Matta da a idéia de que o alimento seria tudo o que é potencialmente comível, no sentido de nutrir o corpo humano, comida seria o conjunto de alimentos selecionados culturalmente como comível.
Já Klaas Woortmann da uma segunda definição para comida, dizendo que comida é o alimento processado, pronto para ser comido. Quer dizer, a relação entre alimento e comida é mais ou menos como cru e cozido:
"O alimento é o mesmo que comida. Tudo o que é comida é alimento, mas ninguém fala vai comê o alimento, fala que vai comê é a comida" (informante, citado por Woortmann 1978:72).
Já no trabalho de Alba Zaluar "A Máquina e a Revolta" encontramos uma outra idéia de comida, que aparece na fala dos moradores do conjunto habitacional "Cidade de Deus" (R.J.), onde: "comida é, basicamente, feijão, arroz e carne." (op. cit., p.106).
Neste conceito de comida, entra um sistema de classificação bastante subjetivo, como forte/fraco, reimoso/não-reimoso, quente/frio, que aparecem em alguns trabalhos como o de Carlos Rodrigues Brandão "Plantar, Colher e Comer", que será melhor discutido mais tarde. Por enquanto indica-se que, aqui, comida entra como o conjunto de alimentos que têm maior valor simbólico ligado à força, alimentos que são fortes: um alimento forte é bom para uma pessoa forte porque ele tem sustança e vai manter aquela pessoa forte. No entanto ele não é bom para uma pessoa fraca pois o organismo desta pessoa não aguentaria este alimento e ela poderia passar mal. Um alimento fraco é bom para uma pessoa fraca porque é condizente com o estado de seu organismo, mas não é bom para uma pessoa forte pois não sustenta esta pessoa. Com certeza o estado ideal de uma pessoa é forte. Então, neste conceito, comida aparece como o conjunto de alimentos que, no seu entendimento, têm força para manter esta pessoa forte.
Como pode-se perceber, "alimentação" varia tanto na prática como na teoria, já que assumi formas de significado diferentes conforme o contexto em que está sendo discutida. Um sentido não se contrapõe necessariamente a outro e às vezes um está contido em outro. E também percebe-se que a língua é, a um só tempo, ampla e restrita demais e que é difícil ter uma palavra única para um sentido único, completamente definido.
No trabalho de Alba Zaluar têm-se uma definição de comida simbolicamente representativa. Simbólica porque traz a palavra comida que é comum, usual, ligada a uma definição específica e peculiar. Comida é o trio de alimentos que uma família precisa ter à mesa, pois todos precisam ter comida à mesa e comida é "feijão, arroz e carne", todos precisam comer estes três alimentos. Mas por que estes alimentos?
Porque entre o grupo social estudado por Alba Zaluar, a carne "é um símbolo poderoso de prestígio social e de riqueza" (Zaluar, 1985:105). Ela é considerada no seu valor nutricional - comida forte, "boa para a saúde" - mas principalmente pela idéia de que "quem não come carne passa por privação alimentar" (idem), pelo seu valor simbólico, que lhe confere uma importância muito grande na dieta daqueles trabalhadores. É por isso que a falta da carne não significa somente a falta dos nutrientes que ela contém, porque esta falta poderia, eventualmente, ser suprida por outros alimentos. Mas mais do que isso, não ter carne significa a falta de algo que é muito importante e desejado e a "eterna insatisfação alimentar" (idem, p.106). Com o feijão e o arroz, acontece algo parecido. Quem não os pode comer, está "passando fome".
Alba Zaluar cita Antônio Cândido, que chama essa "insatisfação alimentar" de "fome psíquica", onde o desejo pela ingestão do alimento está diretamente ligada com o aproveitamento orgânico do alimento pelo corpo.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Bem servido? dicas de filmes que trazem a comida como tema!







"Não é por acaso que a palavra comer tenha sentido duplo. O prazer de comer, mesmo, não é muito demorado. Pode até ser muito rápido, como no McDonald's. O que é demorado são os prazeres preliminares, arrastados — quanto mais demora maior é a fome, maior a alegria no gozo final." (Rubem Alves/2009).







A Festa de Babette - 1987
Diretor: Gabriel Axel
Baseado na história de Isak Dinesen - atriz: Stéphane Audran, vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro em 1988.
"Quem pensa que a comida só faz matar a fome está redondamente enganado. Comer é muito perigoso. Porque quem cozinha é parente próximo das bruxas e dos magos. Cozinhar é feitiçaria, alquimia. E comer é ser enfeitiçado. Sabia disso Babette, artista que conhecia os segredos de produzir alegria pela comida. Ela sabia que, depois de comer, as pessoas não permanecem as mesmas. Coisas mágicas acontecem. E desconfiavam disso os endurecidos moradores daquela aldeola, que tinham medo de comer do banquete que Babette lhes preparara. Achavam que ela era uma bruxa e que o banquete era um ritual de feitiçaria. No que eles estavam certos. Que era feitiçaria, era mesmo. Só que não do tipo que eles imaginavam. Achavam que Babette iria por suas almas a perder. Não iriam para o céu. De fato, a feitiçaria aconteceu: sopa de tartaruga, cailles au sarcophage, vinhos maravilhosos, o prazer amaciando os sentimentos e pensamentos, as durezas e rugas do corpo sendo alisadas pelo paladar, as máscaras caindo, os rostos endurecidos ficando bonitos pelo riso, in vino veritas... Está tudo no filme A Festa de Babette. Terminado o banquete, já na rua, eles se dão as mãos numa grande roda e cantam como crianças... Perceberam, de repente, que o céu não se encontra depois que se morre. Ele acontece em raros momentos de magia e encantamento, quando a máscara-armadura que cobre o nosso rosto cai e nos tornamos crianças de novo. Bom seria se a magia da Festa de Babette pudesse ser repetida..." (Rubem Alves/2009 - projeto releituras).

A Marvada Carne - 1985
Diretor: André Klotzel.
Estrelado por Fernanda Torres, Adilson Barros e Regina Casé. Ganhou onze prêmios no Festival de Gramado, no mesmo ano em que foi lançado, incluindo Melhor Filme pelo Júri Oficial e pelo Júri Popular.
"A marvada carne uma homenagem ao universo da cultura caipira, vista aqui num embate com a cultura da cidade. Adaptação de uma peça teatral de Alfredo Soffredini, o filme também recorre à mitologia brasileira ao colocar em cena figuras como o Saci e o Curupira. Com nove Kikitos no Festival de Gramado, em 1984, é uma das comédias mais divertidas do moderno cinema brasileiro. Comportamentos urbanos também estão em pauta em Almoço executivo, curta assinado pela dupla Marina Person e Jorge Espírito-Santo, que partem de um fato corriqueiro para realizar uma comédia de humor imprevisível." (Marina Person/1996).


Como água para chocolate - 1992
Diretor: Afonso Arau Baseado no romance de Laura Esquivel, é estrelado por Marco Leonardi, Lumi Cavazos, Regina Torné.
Filme mexicano.
"Como Água Para Chocolate" é um filme sobre o amor, a tradição, a paixão, a magia e o misticismo. A cozinha transforma-se num espaço de criação e liberdade, onde Tita transmite todo seu amor e seus desejos através de suas receitas e seus pratos. O filme procura mostrar, ainda, a condição da mulher mexicana da época, bem como, acontecimentos políticos como a Revolução Mexicana." (Esquivel/1993).